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Contos, observações e divagações sobre esse interessante mundo em que vivemos.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Bandeira 2

No silêncio da madrugada, pela janela da minha sala, consigo escutar a conversa de taxistas no ponto fixo aqui de frente ao edifício. Não peguei o enredo da discussão desde o início, mas há pouco, um gritou para o outro: - Mulher feia da porra... hahahahaha... tem vergonha não, é? O outro respondeu: - Vergonha é se tivesse comido sua irmã, aquela caveira. - Vaaaaai, fresco, minha irmã dá prum corno feito tu! - retrucou o primeiro. - E não deu não, foi? - Vaaaaaii... ela gosta tanto de boneca... E já entrando no seu carro mais à frente, o segundo comentou alto: - Da minha sem osso ela gostou!

Apertem os cintos, a manutenção sumiu!

Voo Natal-Recife qualquer dia desses pela Noar linhas aéreas:
Piloto Aguiar e Co-piloto Freitas conversam após 15 minutos da decolagem. - Comandante Aguiar, a força do motor 2 está só em 50%. - Ué... tudo isso? Tava em 40, então fizeram manutenção semana passada! - Retrasada, Comandante, semana passada o radar é que tava apresentando defeito. - Ah, tá! Por falar no radar, Freitas, liga logo ele aí que estou voando nas escuras. - Já liguei, Comandante, não pega. - Como não pega se você falou que a manutenção foi semana passada? - E foi... mas não consertaram. - De novo?? Mas qual foi a desculpa dessa vez? - Sei não, Comandante. Ouvi dizer que falta ainda chegar uma peça que tiraram de um avião lá no Ceará. - No Ceará?? E essa demora toda assim pra chegar? - É que também vem de Noar, Comandante, e o avião que ia trazer quebrou. - Ah, tá!- respondeu o Comandante com ar de entendimento. Após alguns minutos: - Freitas, lembrei agora, minha televisão velha da garagem funciona assim, dá um tapa aí no radar para ver se volta. Freitas começa a bater no radar. Um tapa e nada, dois e nada, três e nada.... daí começa a bater desesperadamente no radar que não dá sinal de vida. - E aí, alguma coisa? - Nada, Comandante... - Nada, nadinha? - Nada, Comandante... ops, quer dizer... - O que foi, algo novo? - Sim, Comandante, o motor 2... voltou para 40% de força. - Puta merda, assim fica difícil pousar essa banheira!! - O senhor que mandou eu bater com força, Comandante. - Bater no radar, Freitas, no radar!! - Mas bati no radar, Comandante, feito o senhor faz na TV da sua garagem. - Mas lá a imagem volta, Freitas! - já irritado. - É, mas aqui ela sai e não tem hora pra voltar, Comandante. Sabe como é!
Fazendo anotações na prancheta, Aguiar volta a falar com seu companheiro de bordo. - Freitas, pede um cafezinho pra gente relaxar, que a situação tá ficando feia. O co-piloto abre a porta da Cabine e dá um berro: - Adellááaaaaaideeee... dois cafeeeziiinhos, por favor! Assustado o Comandante fala grosso com seu colega: - Que é isso, Freitas, tá louco? A aeronave tá lotada. Usa o rádio interno!! - Tá quebrado, Comandante, desde semana passada. Tava usando esse aqui, ó... mostrando ao chefe o instrumento. - Um telefone sem fio de criança, de barbante e copinho de plástico? Que é isso, Freitas??? - Foi o que manutenção deixou temporariamente aqui, Comandante. Disseram que funcionava. - Puta que o pariu, isso é uma palhaçada! - e voltou a escrever no relatório de bordo. - Mas se ao menos tem essa merda aí, porque tá gritando pela porta, Freitas? - É que o rapaz novo da tripulação não sabia, Comandante, aí viu o barbante pelo chão e aproveitou para amarrar a porta da aeronave por dentro. Tava com defeito também e abrindo sozinha. - De novo??? - perguntou Aguiar indignado. - É, voltou o defeito, chamaram um chaveiro aí mas parece que não deu jeito não.
Nesse momento entra a aeromoça com dois copinhos de água na bandeja. - Boa tarde, senhores. - Adeláide, eu pedi dois cafezinhos, não duas águas. - Eu ouvi, Sr. Freitas, mas a cafeteira quebrou de novo. - Eu não acredito, de novo?? - Não, não, semana passada tava faltando café, mas a cafeteira tava boa. - Aaah, tá. - fala aliviado o co-piloto. - Tava quase achando que nada aqui funcionava.
Aguiar dá um gole grande no copo e fala pro colega enquanto devolve-o à bandeja enxugando a boca dos pingos d'água que caiu já pela inquietação. - Freitas, tá difícil pousar assim, pouca força no motor, sem radar... liga o rádio aí e pede à base a nossa localização. Freitas cumpre imediatamente, e logo se ouve: Te dei o sol, te dei o mar, pra ganhar seu coração, você é raio de saudade, meteoro da paixão... - Que porra é essa, Freitas?? - O rádio, Comandante. Disseram também que se não funcionasse pelo menos pegaria a FM. - Quero falar com a base, Freitas, muda de frequência aí. Freitas mexe no aparelho. Eu não sei parar de te olhar, eu não sei parar de te olhar... - Essa não, Freitas, quero é falar com a base. Alejandro, Alejandro, Ale- Alejandro, Ale-jandro... - COM A BASE, FREITAS - fala o comandante nervoso. - Mas estou tentando Comandante.... não vai. Pelo menos não é AM, né? - E como vou pousar essa jeringonça sem força no motor, sem radar e sem rádio?? - Não sei, Comandante, mas vai ver por isso é que perguntaram se a gente tinha muita experiência quando nos contrataram, né? Reclama mais uma vez na prancheta aí e seja o que Deus quiser!
O Comandante já suando na testa leva os olhos levemente pra cima abismado com tamanha demência, enquanto volta a prencher o relatório de bordo. - Freitas, tem caneta aí... essa tá falhando.

Nota: Conto com nomes fictícios e com a única itenção de criticar a negligência que causou muita dor a várias famílias. Meus sinceros pêsames a todos os envolvidos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Pomar dos Horrores

Sem querer ser preconceituoso, mas não é à toa que chamam o Shopping Guararapes de Shopping dos Horrores. É muita gente feia por metro quadrado. E podem olhar que é coisa exclusiva mesmo, você visita outros shoppings e não vê tanta tristeza na passarela. Se bem, que eu saiba, pelo menos não tem curiosos no banheiro querendo ver o seu pinto como no Boa Vista... mas isso é outro papo. Um dia desse fui no cinema do Guararapes e como cheguei cedo fui comer algo na Praça de Alimentação. Quando passeava escolhendo opções, vi uma mulher aperriada que gritava: JJJAAANNBBIIIEEEEEEEEEEEEEEEELE!!!! Quando me perguntava que língua ela estava falando, percebi uma menina de uns quatro anos correndo em sua direção. Vestidinho branco, sapatinho branco, cabelinho encaracolado de trancinha... acho que tinha vindo de alguma primeira comunhão. Aí que percebi, era o nome dela. Jambiele! Caramba, sem sacanagem, que mãe põe na filha o nome de Jambiele?? Se brincar, e bem próprio de quem teve essa ideia, aposto que o nome deve ter dois eles: Jambielle. Sabe como é... mais chique! Terá sido embriaguez ou desejo de jambo na gravidez? Bem, seja o que for, estava no lugar certo: o Shopping dos Horrores. Pior é achar isso bacana e dar sequência, nomeando o futuro irmãozinho de Abacleyton. Imagine daqui a uns anos você passeando no shopping e ouvindo: - AAABBBAAACLEEEEEYYYTTONNNNNNNN, pare com isso!!! Ou pior, imaginar mais tarde a mãe apartando a briga dos irmãos... - Jambiele, você tá roxa... o que aconteceu??? A menina toda descabelada e remelenta responde chorando: - Sei não, mãe...humpt, humpt... foi Abacleyton, ele tá verde de raiva comigo. Ou quem sabe mais tarde, na adolescência, ouvindo da primeira namoradinha séria: - Ô, Abacleyton, te acho tão maduro... Ou quem sabe aquela visita surpresa da família distante. - Meninos, venham conhecer seus priminhos, Mangnólia e Uvanílson! Bem, não importa que salada isso vai dar, nem é problema meu, mas, às vezes, passear no Guararapes lhe proporciona experiências chocantes e inesquecíveis. Curta esses momentos... sem medo.